Mulher que matou marido policial em 2017 é absolvida em julgamento por legítima defesa em Blumenau
A mulher que matou a tiros o marido, um sargento da Polícia Militar, em Blumenau, no Vale do Itajaí, foi absolvida pelo Tribunal do Júri nesta quarta-feira (8). O crime ocorreu na madrugada de 19 de abril de 2017, no bairro Água Verde, após uma sequência de ameaças e discussões dentro de casa.
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De acordo com as investigações, a mulher, de 33 anos à época, relatou à Polícia Civil que há meses tentava se separar após 15 anos de união estável, mas vinha sendo ameaçada de morte pelo marido, identificado como sargento Cleverton Fernando Zimmermann, de 36 anos. Segundo o depoimento, ele dizia que mataria a filha de 10 anos e depois a esposa caso ela insistisse na separação.
Na noite do crime, após uma nova discussão, o policial teria entrado diversas vezes no quarto da filha com a arma em punho, afirmando que a mulher deveria cometer suicídio para poupá-la. Momentos depois, entregou o revólver calibre .38 à esposa para que ela se matasse, então ela efetuou um disparo na cabeça e outros quatro no tórax do PM.
Horas antes, por volta das 21h, a mulher havia procurado o 10º Batalhão da Polícia Militar pedindo ajuda, afirmando que o marido estava descontrolado e armado, e que mantinha a filha sob ameaça dentro da residência — localizada em um condomínio na Rua Trombudo Central, bairro Água Verde. Cleverton foi conduzido à unidade policial, recebeu orientações e foi liberado em seguida, retornando à casa com a família, onde o homicídio ocorreu mais tarde.
Além de policial militar, Cleverton era professor de português e atuou na Escola Alberto Stein, em Blumenau. Amigos e colegas relataram que ele sofria de depressão, informação também confirmada pela esposa em depoimento. Ele havia perdido o irmão gêmeo por suicídio no ano anterior, o que teria agravado seu quadro emocional.
Na época do homicídio, o 10º BPM emitiu nota pública classificando o policial como de “comportamento excepcional”.
A mulher foi presa em flagrante logo após o crime e encaminhada à Central de Plantão Policial, onde confessou os disparos. Segundo a Polícia Civil, não havia registros anteriores de violência física ou psicológica praticada pelo marido.
Absolvição pelo Tribunal do Júri
Após oito anos de tramitação judicial, o caso foi a julgamento no Fórum de Blumenau. O Conselho de Sentença — composto inteiramente por mulheres — absolveu a ré, acolhendo a tese de legítima defesa, sustentada pela defesa técnica coordenada pelo advogado Dr. Diego Vinicius de Oliveira.
“Após oito anos de um longo e doloroso processo criminal, o caso que sensibilizou a comunidade teve seu desfecho com a absolvição da acusada pela tese de legítima defesa. O Conselho de Sentença reconheceu que ela agiu em conformidade com a lei e no exercício do direito de defesa, protegendo a própria vida e a da filha…”, afirmou o advogado.
Ele ainda destacou em entrevista ao Mesorregional que, mesmo diante da atuação da família da vítima como assistente de acusação, ficou claro, à luz das provas, que a reação da mulher ocorreu “dentro dos limites legais e morais da proteção da vida”.
O advogado criminalista também ressaltou a importância do trabalho da Polícia Civil, conduzido à época pela Delegada Rose Barboza Serafim, hoje aposentada: “As provas colhidas com rigor técnico foram fundamentais para que a verdade viesse à tona e a justiça fosse restabelecida.”
Com o veredito, a ré foi absolvida, encerrando um ciclo de sofrimento que durou quase uma década. “A decisão reafirma a confiança nas instituições e na força das mulheres — que, com sensibilidade e razão, reconheceram o direito de uma mãe de defender sua filha e a si mesma”, concluiu Dr. Diego..
Foto: Jefferson Santos / Mesorregional