Editorial: COP30 – Quando o discurso ambiental tropeça na incoerência e na má gestão
A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que ocorre em Belém, deveria ser um símbolo de compromisso com o meio ambiente, de diálogo global e de esperança por um planeta mais sustentável. Mas, o evento começa a se transformar no retrato de um Brasil que promete muito e entrega pouco — especialmente quando o assunto é gestão pública e coerência política.
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Hospedagens com preços exorbitantes, alimentação com valores inacessíveis à maior parte da população e problemas básicos de infraestrutura, como falta d’água em banheiros, revelam uma realidade lamentável: estamos organizando uma conferência global sobre sustentabilidade… de forma insustentável. Se uma simples garrafinha de água custa R$ 25 e um brigadeiro chega a R$ 20, algo está fora do lugar. Não é apenas um exagero — é uma afronta à realidade do povo brasileiro.
E enquanto a retórica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no palco internacional clama pelo fim do consumo excessivo de petróleo e combustíveis fósseis, ele se esquece de alinhar o discurso à prática. O próprio entorno do governo tem sido associado ao uso de embarcações de luxo, como iates que consomem milhares de litros de diesel por dia. Fica evidente, mais uma vez, o velho lema da política brasileira: “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.”
Mas os problemas não param aí. Denúncias de furto de equipamentos e suspeitas de superfaturamento em serviços e estruturas da conferência expõem o despreparo e a irresponsabilidade do poder público brasileiro em sediar um evento de tamanha magnitude. A segurança, a organização e o respeito ao dinheiro público parecem ter ficado em segundo plano — ofuscados por discursos vazios, holofotes e promessas de impacto global.
A COP30 tinha tudo para ser a chance do Brasil mostrar ao mundo que é capaz de liderar a agenda ambiental com seriedade e competência. Mas, até aqui, o que temos visto é um festival de improviso, vaidade política e má administração. É incoerente clamar por justiça climática enquanto se cobra valores impagáveis por um simples lanche e se falha nos aspectos mais básicos da infraestrutura e da logística de um evento dessa dimensão. E em meio a isso tudo, o governo Lula quer taxar ainda mais a energia solar, através da famosa “taxação do sol”.
É urgente que o governo federal — e, especialmente, os responsáveis diretos pela COP30 — assumam a responsabilidade de fazer dessa conferência um marco de credibilidade, e não mais um retrato do fracasso. O Brasil tem potencial para liderar discussões ambientais de forma autêntica, mas para isso precisa deixar de lado o populismo vazio e adotar, de fato, uma postura ética, coerente e eficiente.
Que o mundo venha ao Brasil, sim. Mas que encontre aqui não um teatro montado, e sim um palco firme, construído com responsabilidade, organização e, sobretudo, respeito ao povo brasileiro e ao planeta.
Jefferson Santos
Diretor do Jornal Mesorregional
Foto: Ricardo Stuckert / PR
