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A moralidade seletiva de Odair Tramontin

Odair Tramontin, promotor de justiça aposentado e candidato derrotado duas vezes à prefeito de Blumenau – além de outra ao governo de Santa Catarina – pelo partido Novo, sempre se posicionou como um defensor intransigente da moralidade pública. Em sua última campanha, quando concorreu à Prefeitura de Blumenau, não poupou críticas ao governo municipal, acusando a gestão da época de práticas pouco ortodoxas e adotando o jargão: “Ou rouba ou deixa roubar”.

Sua postura rígida, no entanto, parece ter limites definidos conforme a conveniência do momento. Em um encontro partidário no Oeste de Santa Catarina, Tramontin foi flagrado em um gesto de camaradagem com Clésio Salvaro (PSD), ex-prefeito de Criciúma, que foi preso na Operação Caronte por envolvimento em um suposto esquema de fraudes em serviços funerários. Salvaro foi detido junto com outros envolvidos, sob acusações de organização criminosa, fraude em licitações e corrupção.

A cena do encontro entre o ex-promotor e o ex-prefeito preso não passou despercebida. Os dois trocaram abraços e palavras de incentivo, como velhos amigos que compartilham a mesma visão política. A mão no peito, um gesto de cumplicidade, revela que Tramontin escolhe suas batalhas conforme lhe convém. Aquele que se apresentava como ferrenho acusador da corrupção agora demonstra afeto por alguém que deveria representar exatamente aquilo que ele dizia combater.

Além do contraste entre discurso e prática, o episódio também expõe a tentativa de Tramontin de buscar alianças políticas fora de seu partido, o que reforça ainda mais a incoerência de sua postura. Enquanto em Blumenau atacava adversários por supostos desvios éticos, agora se aproxima de um político que já foi preso por corrupção.

O episódio levanta um questionamento inevitável: será que a ética de Odair Tramontin tem pesos e medidas diferentes dependendo do interlocutor? O abraço em Salvaro sugere que seu discurso moralista pode ser mais uma estratégia eleitoral do que uma real convicção. Afinal, o acusador e o acusado não apenas se encontram, mas se afagam. Para os amigos, tudo. Para os inimigos, a lei.

Foto: Reprodução / Redes Sociais

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