Exclusivo: relato na Operação Carga Oca revela esquema de corrupção
O Mesorregional obteve acesso com exclusividade a um documento anexado às investigações da Operação Carga Oca, deflagrada pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas), que detalha um complexo esquema de desvio de recursos públicos envolvendo a Secretaria Municipal de Conservação e Manutenção Urbana (Seurb) de Blumenau, empresários do setor de macadame e servidores públicos, incluindo secretários municipais.
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De acordo com o relato inserido no material, nem todo macadame empenhado era efetivamente entregue. Parte da carga era desviada ainda no processo, enquanto notas fiscais eram emitidas sem comprovação de entrega, sem romaneio e sem ticket de pesagem. As notas eram utilizadas apenas para garantir o pagamento, com valores que, posteriormente, seriam divididos entre empresários e agentes públicos, envolvendo até mesmo situação de relacionamento extraconjugal.
O relatório aponta que o então secretário da Seurb seria responsável por autorizar pagamentos e recolher parte dos valores desviados, com apoio do então Gerente de Controle, e do ex-diretor da secretaria, além de empresários que operavam o fornecimento do material. Parte do dinheiro retornaria em pagamentos em espécie que teria sido utilizado para compra de imóveis, automóveis e outras vantagens pessoais, sendo praticamente todos os bens em nomes de terceiros. O relatório descreve que o dinheiro público era desviado e dividido entre os participantes.
Ainda conforme o documento, o esquema se tornou menos estruturado a partir da nomeação de um secretário para a Secretaria de Gestão Governamental do Município que conhecia bem as operações da Seurb e desconfiou de irregularidades. A partir daí, houve um controle sobre a liberação de pagamentos…
O texto menciona ainda que empresários das empresas Celeiro e Engefox teriam relatado irregularidades ao então secretário de Gestão Governamental, “confessando” cobranças indevidas e a existência de um esquema de desvio, além de afirmar que havia pressão política, inclusive com menção a uso de recursos para campanhas eleitorais. Isso porque o então secretário da Seurb estaria – através desse esquema – financiando pré-campanhas eleitorais de terceiros que iriam participar do pleito municipal de 2024.
Outro ponto grave descrito no documento envolve vantagens patrimoniais supostamente obtidas pelo secretário Ricardo, incluindo obras em imóveis, pagamento de reformas em residência, aquisição de bens e uso de caminhões e materiais da Seurb para fins particulares. Há menção, inclusive, a apoio financeiro e logístico para campanhas políticas, com fornecimento de materiais de construção e serviços custeados com recursos públicos.
Segundo o relatório, após tentativas de centralizar ainda mais o controle sobre a liberação de macadame, houve restrição de cotas e redução de repasses, o que teria levado empresários a procurar diretamente o então secretário de Gestão Governamental para tentar reorganizar o esquema. O que não ocorreu e coincidentemente, logo após isso, houve a ocorrência com disparo de arma de fogo contra a residência desse secretário.
A Operação Carga Oca apura um prejuízo estimado em pelo menos R$ 3 milhões aos cofres públicos, apenas no período investigado, entre 2022 e 2024 e tudo isso, apenas em Blumenau. As investigações seguem em andamento, com análise de documentos, quebras de sigilo, oitivas e possíveis novos afastamentos e indiciamentos, conforme apuramos.
Todos os citados têm direito à ampla defesa, inclusive o direito de se manifestarem aqui no Mesorregional, que tem recebido informações e documentos importantes, que tendenciam que a investigação apure um esquema gigante que pode envolver até mesmo outras prefeituras e obras da região do Médio Vale do Itajaí para desmascarar um esquema forte de corrupção, sobretudo com horas máquinas contratadas pela Prefeitura de Blumenau (gestão passada) e de outros Municípios.
Se o Gaeco focar um pouco da atenção em horas de máquinas e de caminhões que operam para essas prefeituras e que envolve empresas e empresários já ligados à Operação Carga Oca, se fizer análise entre os dias com rastreamento nos veículos e dias sem rastreamentos, poderá perceber que há uma diferença gritante nos dias de operação sem rastreio.
Foto: Jefferson Santos / Mesorregional
