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Sobre a morte de Olavo de Carvalho de Covid-19

Nesta última terça, dia 25, o Mesorregional noticiou o falecimento de Olavo de Carvalho, considerado o guru da direita conservadora brasileira e, até mesmo, da família Bolsonaro.

Conheci Olavo há cerca de 10 anos, quando a direita praticamente não existia no Brasil e tudo que se encontrava a respeito eram alguns livros antigos e um jornal online (que depois chegou a ser impresso por determinado período) chamado “Mídia Sem Máscara” – cheguei a gerar o boleto para assinar, mas declinei.

Foi da organização de artigos de Olavo neste jornal, por sinal, que Felipe Moura Brasil deu origem à obra “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, que trata de temas políticos diversos e foi um dos livros estratégicamente presentes sobre a mesa de Bolsonaro em algumas lives.

De fato, não tenho dúvidas que Bolsonaro jamais leu o livro em questão, do contrário teria, no mínimo, parado de idolatrar o quadro de Geisel em seu gabinete, entretanto, expor o livro em sua mesa era uma representação de que o líder estatal havia adotado o guru para muitas questões políticas que surgiram no início de seu mandato presidencial. Olavo era um ídolo para os “filhos do rei” e certamente o ajudou a vencer as eleições.

Curiosamente, Olavo nem sempre foi de direita. Já foi um militante da esquerda radical e quase fez parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB) – tem até foto com o Fidel Castro! Aliás, desconfio que seu amor era, na verdade, pelo extremismo, mudando de ideologia quando rejeitado na primeira escolha. Temos casos contemporâneos semelhantes, como o de Sara Winter, que virou bolsonarista após perder seu cargo de liderança em um movimento feminista radical, e o de Patrícia Lelis, uma então jornalista ultraconservadora que virou militante radical de esquerda quando não acreditaram em suas acusações de estupro contra Marco Feliciano. Uma borderline política duradoura que traduz em um gosto feroz por ideias radicais.

Olavo certamente deixou um legado: foi um dos principais responsáveis por ressuscitar uma direita até então assassinada e deu voz a novas lideranças. Não podemos condená-lo se a maioria dessas lideranças criadas não teve senso crítico para dissernir entre o que é real e o que são teorias conspiratórias. Aliás, podemos julgar que o brasileiro não tenha o costume de desenvolver seu senso crítico tendo uma das piores educações do mundo?

Ele também deixou obras importantes para a filosofia, como a tradução nacional para a obra de Schopenhauer “Como vencer um debate sem precisar ter razão”, destacando-se pela dialética erística que o falecido autor tanto praticava, além de outros clássicos onde atuou como autor primário e secundário.

O guru da família Bolsonaro morava nos Estados Unidos há quase 17 anos, foi para lá em 2005, justamente na década em que o forte antagonismo político americano começou a gerar empregos para propagadores de teorias conspiratórias a nível mundial, prática que até então era feita apenas internamente pelos americanos. Olavo provavelmente tenha sido um desses “agentes divulgadores” para os Republicanos (partido da direita conservadora americana). Podemos notar, em seus vídeos mais antigos, que ele chega a citar teorias absurdas, como a de que Obama, então presidente dos EUA, era agente da KGB, não seria americano nato e teria apresentado certidão de nascimento falsa.

Ele era um senhor rebelde, defensor de ideias conservadoras no âmbito econômico e reacionárias no âmbito social e religioso. Morreu de covid-19, mas nunca deixou de defender seus princípios, suas ideias e suas teorias conspiratórias, inclusive sobre a vacina, que se recusou a tomar.

Olavo nem sempre tinha razão.

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