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Especial Dia dos Pais: o amor e a superação

Para uns, o Dia dos Pais é um momento de grande festa, família reunida, muita comida e presentes. Para outros significa saudade que, às vezes, pode ser abrandada com uma ligação ou mensagem. Entretanto alguns não têm essa sorte e o que resta são as boas lembranças.

Feliz é aquele que tem um pai, padrasto, tio, avô, ou aquela pessoa que representa a figura paterna em sua vida. Para marcar este Dia dos Pais, o Mesorregional vai contar duas histórias emocionantes onde o amor e a superação fazem parte do dia a dia dessas pessoas.

Elvis Amarildo Vanzuita (33) e o Christian Daniel Vanzuita (03), são pai e filho, ambos com deficiência visual. Uma história linda que vale a pena ser contada. Confira:

Elvis e Christian
Elvis Amarildo Vanzuita. Foto: Wellington Civiero.

Olga Helena: Me conta um pouco sobre a sua história.

Elvis: Eu nasci já com uma certa deficiência visual, mas ainda enxergava. Tenho uma doença rara chamada aniridia, que é a má formação da íris e também glaucoma, só que ambos eram leves. Eu tinha uma vida normal, ia para a escola no ensino regular, jogava bola e videogame. 

Após um procedimento médico, eu fiquei com risco de perder totalmente a visão. Eu tive que fazer a raspagem no hospital regional pelo SUS e então fui em busca de um transplante de córnea. Quando eu tinha 17 anos, fiz um transplante no olho direito e consegui enxergar por uns dois meses, mas depois aconteceu a rejeição. Meu olho foi atrofiando e perdi totalmente a visão. No início era bem complicado, eu batia nos postes, caía. Com o tempo fui pegando a prática e hoje eu consigo sentir um obstáculo a metros de distância.

Foi quando eu fui para o Paradesporto (prática de esportes por uma pessoa com deficiência) através de uma associação de cegos e o esporte me salvou! Eu comecei a jogar futebol de cegos, participar de corridas de 100m e 400m. Já participei de vários campeonatos em vários lugares do Brasil, principalmente de corrida. Isso ajudou na minha autoestima e aceitação, na questão de orientação espacial e reabilitação.

Olga: Qual a história do seu filho?

Elvis: Meu filho nasceu com câncer nos olhos retinoblastoma, a mesma doença que afligiu a minha mulher. No caso dela, ela enxergou até os dois anos e depois perdeu a visão. Tínhamos esperança de que ele não fosse ter. O Christian foi identificado com a doença logo no primeiro mês de vida. Nós fomos atrás de recursos para que ele pudesse ter acesso ao tratamento em São Paulo, pois somente lá eles têm esse centro para tratar retinoblastoma. Ele ficou lá por muito tempo desde o primeiro mês de vida, fazendo várias quimioterapias e tratamentos. Hoje, ele vai mais para acompanhamento e para controle, pois sua visão ainda está em desenvolvimento. Ele acabou perdendo a visão do olho esquerdo e do olho direito é baixa. 

Olga: O que significa ser pai para você?

Elvis: Mais do que tudo é um aprendizado. Mudou completamente meu modo de ver a vida e me fez amadurecer. Antes eu não me preocupava tanto com o futuro e hoje eu faço tudo pensando nele. Para que tudo seja melhor para ele. Eu tenho muito orgulho do meu filho e sinto um amor um carinho que eu nunca imaginei sentir e receber isso de volta de uma criança. Ele é tudo para mim.

Olga: Qual a maior dificuldade do seu dia a dia em relação à educação dele?

Elvis: Como ele ainda enxerga, tem situações que ele nos mostra algo, como um brinquedo e como não sabe falar, nós temos que tentar adivinhar o que é. E outra questão delicada é com a roupa, para sabermos se está limpinha e sem manchas. A questão das meias também, às vezes acontece dele ficar com elas trocadas, pois no tato é muito parecido. Então, sempre pedimos para a avó dele nos ajudar a fazer essa separação e ver as roupas dele. E a questão visual, pois às vezes ele quer ver um desenho de caminhão ou de carrinho no Youtube e ele fica apontando: “Esse! Esse!”. Daí eu falo: “Filho eu não sei, vou colocar o que eu achar aqui pois não sei qual que você está apontando”. As situações vão aparecendo no dia a dia e nós vamos contornando.

Olga: Vocês já sofreram algum preconceito?

Elvis: Diretamente, não. Mas, o mais forte é com as outras crianças. Ele, geralmente, usa uma prótese no olho esquerdo, mas uma vez perdeu e teve que ficar sem por um tempo. Quando fomos para a creche as crianças falavam: “Olha o menino sem olho! ”. Ou perguntavam porque ele não tinha um olho. Isso era um pouco constrangedor. Nós sentimos que as pessoas passam e ficam nos olhando com pena. Uma vez falaram para a minha esposa: “Como que deixam uma deficiente sair com uma criança? ”

Olga: Como você imagina o seu filho daqui há alguns anos?

Elvis: Eu desejo que ele continue sendo forte, que consiga vencer as barreiras que a gente sabe que ele enfrentará na sociedade em relação ao preconceito. E eu espero muito que ele possa, assim como eu, descobrir no esporte uma forma de se superar e fazer disso uma experiência bacana na vida dele. Que ele possa terminar os estudos e arrumar um bom emprego e ser um homem que tenha orgulho da mãe e do pai, pois nós batalhamos muito para dar para ele o melhor.

Darci Francisco Floss (49) e Luan Egon Floss (19), sentaram lado a lado e deixando a vergonha de lado, contaram ao Mesorregional um pouco da sua vida. 

Darci e Luan
Darci e Luan Floss. Foto: Wellington Civiero.

Olga: Conte um pouco sobre a história de vocês.

Darci: Minha mulher e eu não somos daqui de Blumenau. Ela é de Saudades e eu sou de Pinhalzinho. Nos conhecemos quando ela tinha 10 anos e eu já estava com quase 18. Nossos pais tinham propriedades próximas uma da outra. Mas eu só voltei a falar com ela alguns anos depois, quando ela tinha 15 anos. E como eu posso dizer? Foi amor à primeira vista. 

Eu arrisquei e deu certo. Nós namoramos e casamos. Daí nós nos mudamos e a vida seguiu. Quando ela engravidou do primeiro filho, foi uma alegria. Mas ele nasceu prematuro de 6 meses e logo descobrimos a deficiência auditiva e começamos a ir através de ajuda para ele. 

O Luan já tem atendimento desde pequeno aqui na Associação Blumenauense de Amigos dos Deficiente Auditivos (Abada). E entre idas e vindas da vida, fomos tocando em frente. Agora ele está com 19 anos e recebe atendimento para entrar no mercado de trabalho. 

Olga: Qual a maior dificuldade do seu dia a dia?

Darci: Conseguir atender todas as necessidades dos nossos filhos, queremos dar o melhor a eles. Agora nós conseguimos o aparelho auditivo para o Luan, em breve ele vai testar ele. Nossa expectativa está alta para isso, pois achamos que vai ser bom para todos nós. Por enquanto, temos dificuldade para nos comunicarmos com ele, não sabemos o que ele está querendo dizer, quando está com dor ou uma doença. Ele não consegue se expressar. Daí talvez com o fonoaudiólogo e com o aparelho a coisa melhore. Nós temos os nossos gestos familiares, mas está bem longe da Língua Brasileira de Sinais (Libras). 

Olga: O que vocês gostam de fazer juntos?

Darci: Nós jogamos baralho. Mas ele não gosta muito de perder (risos). Sempre damos um jeitinho para ele vencer, mas às vezes ele perde e explicamos que é assim mesmo e que tem que aceitar. Mas é difícil.

Olga: Se vocês pudessem fazer um desejo para o futuro do seu filho. Qual seria?

Darci: Que ele consiga ter uma profissão boa, se forme e se estabeleça e progrida. Quero que ele tenha um futuro melhor do que o nosso. Não que a gente possa se queixar, temos uma vida incrível. Mas sempre desejamos o melhor para os nossos filhos. Quando éramos jovens, nós não tínhamos esse pensamento, só queríamos casar, ter uma casa, emprego e família. A formação ficava de lado. Mas depois que nós encaminharmos o Luan e as meninas, eu vou realizar o meu sonho também.

Olga: E qual é o seu sonho?

Darci: Eu quero me formar em eletricista. É meu sonho, fazer um curso de eletrotécnica e aprender e me profissionalizar nisso. Eu construo tudo lá em casa, só falta o diploma e o aprimoramento (risos). Mas isso fica para depois, primeiro vem o Luan e as meninas. Quem sabe um dia eu consiga realizar todos esses sonhos!

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Conhecer as histórias do Elvis, do Darci e dos seus filhos, foi uma grande honra para o Mesorregional. Reconhecemos que cada pessoa tem uma batalha individual para combater todos os dias, mas fazer isso sem um dos cinco sentidos, é ainda mais sensacional. Histórias como essas merecem ser admiradas e é uma das nossas funções, quanto meio de comunicação, contá-las. 

Nosso agradecimento especial a Associação de Cegos do Vale do Itajaí (ACEVALI) que presta um serviço excepcional ao Elvis e demais deficientes auditivos de Blumenau e região. E também a Associação Blumenauense de Amigos dos Deficientes Auditivos (ABADA), que ajuda o Luan desde pequeno e que está unindo ainda mais pai e filho no aprendizado da língua de sinais. Esperamos que as vidas do Elvis, Darci e dos seus filhos, sigam repletas de momentos felizes e que continuem fazendo do amor à fórmula para a superação.

Feliz Dia dos Pais a todos os nossos leitores, em especial ao nosso diretor Jefferson Santos. Que esse dia seja repleto de amor e memórias incríveis.

Matéria escrita por Olga Helena de Paula, com imagens de Wellington Civiero e revisão de Tamara Sedrez.

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