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Três atropelamentos marcam a abertura da Semana do Trânsito em Blumenau

Por Marcia Pontes, colunista do Notícias Vale do Itajaí:


A abertura da Semana Nacional do Trânsito em Blumenau (18 a 25 de setembro) não foi marcada por discursos na praça da prefeitura, por desfiles, banda de música ou apresentações ao ar livre como já se viu em outras épocas em Blumenau. Mas, por três atropelamentos: um na rua 7 de Setembro, um na rua 2 de setembro e outro no final da tarde na rua Benjamin Constant. No centro, o pedestre atravessou a via partindo do cruzamento com a rua Presidente John Kennedy e para escapar, por pouco, de ser atropelado por um caminhão, acabou sendo atropelado por um motociclista que estava trabalhando e ia visitar um cliente. Trajetórias e compromissos de ambos interrompidos para atendimento médico. Para a sociedade, mais do que um fato já esperado diante do risco assumido por todo pedestre, a oportunidade de reflexão nessa Semana Nacional do Trânsito que inicia e que cujo tema é: Nós Somos o Trânsito. Os três pedestres tiveram apenas escoriações e passam bem. Mas, poderia ser diferente.

Todo blumenauense e até visitante na cidade conhece bem aquele trecho da rua 7 de Setembro que é o preferido para a travessia inadequada dos pedestres. Eles caminham pela calçada do outro lado da rua, dão aquela paradinha bem em frente à clínica oftalmológica e ficam de olho na primeira oportunidade de atravessar as 4 pistas, muitas vezes, se desviando em meio aos veículos. Na maior parte das vezes o pedestre sai ileso, mas hoje a casa caiu para o pedestre, e não é a primeira vez que isso acontece.

Tempos atrás foi provocada a morte de um motociclista que colidiu contra o corpo de uma pedestre: o corpo do condutor foi arrastado pelo asfalto, teve fraturas e ele não sobreviveu. Ainda mais recente foi o atropelamento de um escolar que insistiu em atravessar a rua 7 onde não devia e por pouco não foi parar embaixo da roda de um ônibus de transporte coletivo. Fora da rua 7, em um desses últimos dias chuvosos houve o atropelamento de pedestre que se lançou na pista em evidente inopino, sem os deveres de cautela que demandam o art. 69 do CTB aos pedestres:

Art. 69. Para cruzar a pista de rolamento o pedestre tomará precauções de segurança, levando em conta, principalmente, a visibilidade, a distância e a velocidade dos veículos, utilizando sempre as faixas ou passagens a ele destinadas sempre que estas existirem numa distância de até cinquenta metros dele, observadas as seguintes disposições:


I – onde não houver faixa ou passagem, o cruzamento da via deverá ser feito em sentido perpendicular ao de seu eixo;

II – para atravessar uma passagem sinalizada para pedestres ou delimitada por marcas sobre a pista:

  1. a) onde houver foco de pedestres, obedecer às indicações das luzes;
    b) onde não houver foco de pedestres, aguardar que o semáforo ou o agente de trânsito interrompa o fluxo de veículos;

III – nas interseções e em suas proximidades, onde não existam faixas de travessia, os pedestres devem atravessar a via na continuação da calçada, observadas as seguintes normas:
a) não deverão adentrar na pista sem antes se certificar de que podem fazê-lo sem obstruir o trânsito de veículos;

  1. b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres não deverão aumentar o seu percurso, demorar-se ou parar sobre ela sem necessidade.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) que é aplicado aos fatos que se relacionam a todas as vias terrestres no território nacional é bem claro para o pedestre: atravessar a rua com segurança, ter visibilidade, considerar a distância e a velocidade dos veículos, utilizar sempre as passagens de segurança destinadas a ele, obrigatoriamente, dentro de uma distância de até 50 metros. Se desrespeitar essas disposições poderá ser considerado culpado pelo próprio acidente e ainda ter a obrigação de indenizar o condutor do veículo que o atropelou. Não são poucas as decisões judiciais neste sentido, fartamente encontradas na jurisprudência.

 

Por que o pedestre não atravessa na faixa?

Cada um pode ter a sua opinião sobre por que o pedestre não atravessa na faixa: preguiça, pressa, e por aí vai, sem esquecer que, muitas vezes, mo local não há mesmo faixa de travessia de pedestres. Mas, independente das elucubrações, a literatura científica da Segurança no Trânsito e da Engenharia de Tráfego explica por meios de estudos que os pedestres tendem a atravessar as vias no sentido de sua caminhabilidade. E isso é bem diferente de afirmar que seja uma conduta certa.

Diz a literatura que desde que o mundo é mundo o pedestre busca caminhar sempre para a frente e em linha reta, desprezando, muitas vezes, os obstáculos, mesmo quando se trata de veículos motorizados. Por este motivo é que os projetos em engenharia de tráfego são recomendados a considerar sempre que possível a caminhabilidade dos pedestres enquanto as leis os atribuem deveres de autocuidados, responsabilidades e responsabilizações pelas consequências de seus atos.

Já quanto às passarelas, os estudos científicos na área de engenharia de tráfego demonstram que essa variável predominante no modo dos pedestres se deslocarem também é determinante: pedestres dispensam travessia de passarelas na cidade quando elas têm muitos lances de escadas ou de rampas; quando estão sujas, mal cuidadas, com corrimãos e guarda-corpos enferrujados. Pedestres também dispensam passarelas quando têm medo de altura e, ao contrário do que se pensa, nem sempre o pedestre que atravessa a rua assumindo riscos o faz porque está com pressa. Na passarela da Furb na rua Antônio da Veiga, por exemplo, atravessar a rua de um meio fio a outro leva 30 segundos. O mesmo trajeto pela passarela leva 3 minutos. Eis a justificativa da maior parte dos pedestres para assumir ou não os riscos. A diferença é que 3 minutos salvam a sua vida.

Nas passarelas em rodovias a situação costuma ser semelhante à justificativa apresentada pelos pedestres em relação ao túnel da discórdia que fica na rua 7 de Setembro, em frente ao shopping: risco de assaltos, inclusive, durante o dia.

 

Se dá para o pedestre também dá para o veículo

Muitos acidentes são provocados diariamente por inobservância a um parâmetro que, quando bem aplicado, evita acidentes e salva vidas. O pedestre é a parte mais frágil no trânsito, obviamente que bem mais lento que o automóvel. Quando o motorista vai sair de um lote lindeiro, de uma guia rebaixada, de uma garagem, de uma rotatória que o obriga a parar na saída dela (como no trevo do Tomio, na Velha) ou mesmo sair de um cruzamento ou de uma conversão a dica mais importante é perguntar-se: “se fosse um pedestre atravessando em segurança daria prá ir?”. Se a resposta for sim, prossiga. Se a resposta for não, aguarde. É assim que evito acidentes desde que comecei a dirigir e é assim que ensino aos alunos. 

Aos alunos no papel de pedestres eu sempre proponho a seguinte constatação: você está parado, em velocidade praticamente zero quando move o corpo manifestando atravessar a rua; o veículo já vem, no mínimo, na velocidade da via (outros com mais velocidade). Se você não tiver visibilidade suficiente, se não observar a distância e a velocidade do veículo, não vai dar tempo nem de chegar no meio da rua que já será atropelado. Não tenta a sorte que o azar é certo!

Trânsito é comportamento. As pessoas costumam pensar, agir, ter atitudes e tomar decisões no trânsito como o fazem na vida: se é educado, tolerante, respeitoso e tem autocuidados na vida, será educado, tolerante, respeitoso e terá autocuidados também no trânsito.

Crescemos acostumados ao vídeo do Pateta que assistimos na autoescola durante o processo de habilitação, mas nem todo mundo é assim. As pessoas não se transformam, elas se revelam publicamente como são na faceta oculta que a sociedade não conhece.

 

Semana Nacional do Trânsito

A Semana Nacional do Trânsito, mais do que realizar o máximo de atividades que puder de acordo com o calendário de datas comemorativas, tem a finalidade de fazer com que as pessoas e os gestores do trânsito reavaliem as suas ações e estratégias; o que estão fazendo ao longo de todo o ano por um trânsito seguro e possam melhorar ainda mais. Mas, como a segurança no trânsito não é levada a sério como deveria e não se reconhece a importância que tem, acaba passando batido em muitos lugares.

Mais autocuidados com a própria vida e com a própria segurança; ações preventivas contextualizadas e sistêmicas ao longo do ano todo, um programa que faça parte de um Plano de Segurança Viária que sensibilize a população para os cuidados com o trânsito enquanto compromisso; uma escola pública de trânsito estruturada, forte, atuante e onde o cabra (ou a cabrita) seja até indicado político, mas que tenha formação científica sólida e reconhecida em Segurança no Trânsito. É por aí que começa tudo.

As pessoas protagonizam os acidentes, mas também podem protagonizar a prevenção, os autocuidados e a segurança. Os gestores costumam protagonizar discursos, mas podem protagonizar também as ações e as parcerias com a comunidade a fim de que ela seja responsiva aos apelos por um trânsito seguro.

O que você está a disposto a fazer para salvar a sua pele e a dos outros no trânsito?

 

Márcia Pontes
Especialista em Trânsito

Representante do Maio Amarelo em Santa Catarina

 

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