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Entre a fabricação do veículo e o recall pode levar até 7 anos

Márcia Pontes traz mais um tema polêmico ao mesmo tempo que é um alerta para motoristas. É sobre os defeitos de fábrica em veículos, em que peças podem causar até a morte. São milhões de veículos que registraram algum tipo de defeito no ano passado e apenas uma pequena parcela dos proprietários procuram as concessionárias para alteração e implantações adequadas. Confira o que diz a especialista em segurança de trânsito e colunista do Notícias Vale do Itajaí:


Airbags laterais e frontais, ABS, controle eletrônico de estabilidade e tração, alerta de pressão dos pneus, alerta de colisão frontal, alerta de ponto cego e até assistente de permanência na faixa que corrige a trajetória e alinha o carro na pista. Sistema Start/Stop para otimizar a eficiência do motor e até mesmo estacionar sem usar as mãos com a ajuda do Easy Park. Computador de bordo, partida sem chave, mas… e quando a montadora leva até 7 anos para avisar o motorista de que um destes ou outros equipamentos pode falhar, te deixar na mão e provocar o acidente? E se o defeito existir, passar batido e o motorista só descobrir o defeito após o acidente? É o que mostra o relatório do Boletim de recall do Denatran, que coletou dados de 2013 a 2016. Clique aqui para acessar.

Entre os anos de 2013 e 2016 foram quase 6 milhões de automóveis, quase 48 mil caminhões e quase 200 mil motocicletas submetidas a recall pelas montadoras. Mais preocupante ainda são os itens de segurança que saíram de fábrica com defeito: air bag, cinto de segurança, freios, rodas, direção e até o motor. Ainda que a quantidade de veículos produzidos seja bem maior do que a quantidade de veículos submetidos a chamamento público para recall, houve uma queda na produção e um aumento de veículos que saíram de fábrica com defeito.  O tempo é contado em meses e anos a partir da data de fabricação e até a data da campanha de chamamento para a substituição de peças.

Por fornecedores, a Chrysler levou o tempo médio entre 7 anos e 5 meses entre a fabricação do veículo e a chamada pública para substituição de peças dos veículos que fabrica. A Honda levou 7 anos e 1 mês; a Toyota precisou de 7 anos e 5 meses para avisar os clientes; a Nissan, 7 anos e 4 meses. A KTM do Brasil demorou 7 anos e 11 meses para detectar defeitos de fabricação e avisar os proprietários dos veículos que fabricou que alguns itens trariam riscos de não funcionar e, consequentemente, apresentar riscos à segurança do condutor, seus passageiros e demais que cruzassem com ele em uma via.

Os fornecedores British e J. Toledo fizeram pó chamamento público para a troca de peças que poderiam apresentar defeito nos veículos que fabricaram no tempo médio de 5 anos e 8 meses. A Kia Motors precisou de 5 anos e 1 mês; a CAOA 4 anos e 2 meses; a Fiat demorou 4 anos e 9 meses; a Suzuki precisou de 4 anos e 5 meses; Moto Honda 4 anos e 4 meses e a Porshe levou 4 anos e 2 meses.

Pelo Boletim de Recall publicado pelo Denatran, os consumidores de veículos fornecidos pela BMW só ficaram sabendo que deveriam comparecer às concessionárias para a troca de componentes de seus veículos com 3 anos e 2 meses após a fabricação. A Ducati avisou 3 anos e 3 meses depois; a SNS Automóveis com 3 anos e 4 meses. Quem precisou de menos tempo para avisar os seus consumidores de que deveriam comparecer à concessionária mais próxima para a substituição de componentes que poderiam apresentar defeitos e, claro, potencializar o risco de acidentes foi a Volvo: 8 meses, seguido da Triumph (1 ano); Yamaha Motor  e Mercedes Benz (1 ano e 4 meses, respectivamente).

 

Acidentes de consumo

O aumento no número de campanhas de recall se deve à atuação do Denatran, mas entre os anos de 2013 e 2016 muitas montadoras saíram na frente, detectaram a possibilidade de defeito e começaram a avisar os seus clientes. No entanto, muitas ocorrências foram avisadas pelos próprios consumidores quando o acidente já foi provocado. Nesses casos, é feita a investigação preliminar pelo Denatran, que requer e encaminha estudos técnicos para determinar ou não às montadoras que façam o chamamento público para recall.

Dos 42 pedidos de estudos técnicos feitos pelo Denatran à Universidade de Brasília para investigação dos riscos à saúde e segurança dos consumidores, a lista de supostos defeitos assusta, pois tratam-se de itens absolutamente importantes e que em caso de defeito podem levar a acidentes graves e até sequelas e mortes. Mas, ainda que a tecnologia seja avançada, máquina é máquina e está sujeita a defeitos. Mesmo aqueles inaceitáveis e dos quais dependem as vidas das pessoas.

Na página 24 do Boletim de Recall do Denatran a fabricante Renault está empatada com a GM entre as que mais entraram na lista dos defeitos relatados pelos consumidores: 9 ocorrências. Foram 8 defeitos em automóveis e 1 em camioneta da Renault; e, 8 defeitos em automóveis e 1 camioneta da GM. Em seguida vem a Ford com 3 automóveis e 1 camioneta; a Peugeot com 3 automóveis, e as montadoras Fiat e JAC, cada uma com 2 automóveis que tiveram defeitos relatados pelos consumidores.

Marcas famosas como a Hyundai também tiveram relatos de 2 automóveis com defeitos notificados ao Denatran; a Kia teve relato pelos proprietários de duas camionetas com defeitos que não foram detectados pelo fabricante. Na sequência vieram a Volkswagem com apenas 1 defeito em um de seus veículos, 1 caminhão da Mercedes Benz, 1 utilitário da Land Rover, 1 caminhonete da Toyota, 1 caminhonete da Mitsubishi, 1 utilitário fabricado pela Jeep, 1 moto Honda e 1 moto Yamaha. A lista e o boletim completo você acessa no link do primeiro parágrafo dessa postagem.

 

Tecnologia nenhuma substitui o motorista

Tem muito motorista por aí que confia demais na alta tecnologia embarcada e ignora o fato de que não existe tecnologia no mundo que substitua o motorista em suas decisões e controle do carro. Por mais perfeita que pareça ser a tecnologia ela falha. Isso, quando a falha já não vem direto de fábrica e o motorista nem sabe, só vai saber depois do acidente.

Como se não bastassem os acidentes, sequelas e mortes provocados por imprudência, imperícia e negligência dos motoristas, certas montadoras levam até 7 anos para avisar quem compra os seus veículos que aqueles equipamentos que deveriam salvar a vida do motorista, de seus passageiros e de outras vítimas precisam ser trocados.

Todo cuidado é pouco. Tecnologia embarcada ajuda, mas nada, nada substitui o motorista. Para partes do corpo e para a vida humana não existem peças de reposição.

 

Márcia Pontes
Especialista em Trânsito

Representante do Maio Amarelo em Santa Catarina

 

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